segunda-feira, 18 de junho de 2018

A Greve de Eisenstein e as greves segundo Guima.

 Às vésperas do centenário do clássico do cinema russo, Guima apresenta síntese contemporânea implacável do significado dos movimentos de greve nos dias atuais



Sergei Eisenstein foi um cineasta revolucionário, que mudou a história do cinema e influenciou grandes diretores como Orson Welles, Brian de Palma e Oliver Stone, dentre outros. Sua filmografia é relativamente curta - pouco mais de dez longas - para os nossos padrões de produção atuais, mas suas contribuições foram tão marcantes, que seu nome é sempre lembrado em qualquer lista a respeito dos maiores cineastas de todos os tempos.


Sergei Eisenstein

Seus filmes mais conhecidos são o Encouraçado Potemkin (1925) e Ivan, o Terrível (1944). O primeiro foi feito para celebrar o regime bolchevique, recém inaugurado na URSS. E o segundo foi realizado a pedido de Stálin, que era profundo admirador do czar. Sua obra, a exemplo da maior parte da produção soviética da época, é marcada por um profundo engajamento político.
Nesses dias, tive a oportunidade de assistir pela primeira vez o primeiro longa metragem da carreira de Eisenstein: A Greve, lançado em 1925. Se você não está familiarizado com cinema mudo, prepare-se para uma grata surpresa. Em geral, ao contrário do que se imagina, os filmes produzidos nessa época têm muita ação e não são nada difíceis de assistir. A Greve (trailer abaixo) é um belíssimo filme, que se baseia na trágica história de um operário de uma fundição, que se suicida após ser acusado de roubar um micrômetro da fábrica. O ocorrido serve de estopim para que os operários organizem a greve citada no título do filme.



É impossível assistir o filme e não refletir a respeito de quão atuais são as questões abordadas. Assim pensei, até me encontrar com o Guima, alguns dias depois de assistir o filme. Ele refletia sobre o episódio recente da greve dos caminhoneiros no Brasil e muito rapidamente sintetizou seu pensamento a respeito das greves, de uma maneira geral: "Esse negócio de fazer greve não dá em nada. Você pode ver: sempre que fazem uma greve, só serve para causar prejuízo!" e emendou "no começo parece uma boa, mas depois o pessoal começa a cortar os salários, ameaçam demitir os funcionários,... e tudo volta como era antes. Bobagem esse negócio de greve!"
Talvez eu ainda estivesse influenciado pelo filme do Eisenstein e após ouvir com perplexidade, argumentei: "mas é proibido por lei demitir funcionários que fazem greve, né!?" No que ele prontamente rebateu com um sorriso no canto da boca: "ahh... não demitem na hora, mas depois sempre arrumam um pretexto, uma crise que exige redução do quadro de funcionários e pronto! Esse negócio de greve não funciona".
Saí da conversa um tanto aturdido. Me lembrei do filme, das conquistas trabalhistas históricas obtidas por meio das greves, mas tudo me pareceu tão distante... O Guima, com suas doses cavalares de realidade seca e cortante, tinha razão mais uma vez: "Esse negócio de greve, não dá em nada".
A propósito, para quem não sabe, o Guima é o meu cabeleireiro. Ele tem tido cada vez menos trabalho nas visitas mensais que eu faço para ele e eu tenho aprendido cada vez mais a respeito desse mundo real.

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